Por:
Diogo Ribeiro & Sara Garcia
Técnicos de Nutrição
Zoopan, S.A.
Na produção de leite de vaca, a alimentação é um ponto fundamental a que deve ser dada a devida importância, uma vez que tem implicações a nível produtivo, reprodutivo e ainda impacto na qualidade do leite. Para além destas, a alimentação pode significar 40 a 65 % dos custos de produção de uma exploração leiteira, e na qual o impacto da subida das matérias primas e o seu aprovisionamento se faz sentir. Sendo a silagem de milho um dos principais alimentos utilizados para a produção de leite de vaca, ao longo deste artigo vamos descrever algumas das valorizações da qualidade de Silagem de Milho para a produção leiteira.
A Silagem de Milho tornou-se um pilar da alimentação de vacas leiteiras muito devido à sua simplicidade de cultivo (boas condições edafoclimáticas em Portugal para o seu cultivo), segurança alimentar e principalmente, alto valor nutricional a um preço competitivo.
A qualidade da Silagem de Milho pode diferir, tendo em conta diversos factores: a época de colheita, a maturação da planta aquando do corte, a composição química, o tamanho das partículas aquando da colheita, o processo de fermentação e a conservação adequada. A avaliação da qualidade das silagens fundamenta-se pela sua composição química e, essencialmente, no seu valor nutritivo. Cada silagem difere entre si, e existem diferenças significativas tanto em composição química, como em valor alimentar, que vão obviamente impactar as performances zootécnicas dos animais em cuja dieta a silagem vai fazer parte integrante. Desta forma, será sempre necessário analisar a forragem, de modo a poder ser feito um ajuste nos planos alimentares.
32 - 33 % de MS na planta inteira
O teor em Matéria Seca (% MS) é um dos dados que é primeiramente analisado quando falamos de silagem. Este critério permite transformar os pesos do produto em bruto em rendimento, stock e quantidades distribuídas. A colheita da silagem de milho faz-se geralmente entre os 30 e os 35% de matéria seca da planta inteira, sendo que o compromisso ideal entre rendimento, digestibilidade das fibras e qualidade de conservação se situa entre os 32 – 33% MS (Gráfico 1).
Gráfico 1 – Relação entre MS (% MS) e UFL (Energia)
Uma colheita muito precoce não permitirá optimizar o rendimento, e a silagem sofrerá perdas por escorrimento dos sucos, tendo uma ingestão mais baixa. Uma colheita tardia torna a silagem mais difícil de ensilar, e pode comprometer a qualidade de conservação.
Grão Leitoso - Milho com < 28 % MS - grãos devem ser “tocados” para assegurar uma digestão correta;
Grão Pastoso – Milho com 28 a 32 % MS - grãos devem ser cortados para que o amido pastoso fique acessível através da digestão de bactérias do rúmen;
Grão Vítreo – Milho com mais de 32 % MS - grãos devem ser fracionados para otimizar a digestão.
A matéria seca decompõe-se em matéria orgânica e mineral (ou Cinzas). A taxa média de Cinza Bruta deverá ser na ordem dos 4% MS. Se for superior a 6% MS, é sinal de contaminação com terra aquando da colheita, aumentando o risco de proliferação de bactérias butíricas e ainda diluição do valor alimentar da silagem de milho.
A digestibilidade da Fibra diminui de acordo com o estado de maturação
As fibras são um componente indispensável na dieta dos ruminantes, que dependendo das suas características químicas e físicas, podem interferir diretamente na digestão ruminal, e diretamente na qualidade do leite. Assim, as fibras representam uma parcela importante na qualidade da silagem de milho.
As paredes vegetais representam essencialmente fibra. Estas formam o esqueleto de gramíneas e leguminosas com cadeias de celulose revestidas de hemicelulose e pectinas, com diferentes concentrações de Lignina.
Imagem 1 – Composição da Parede Vegetal
A Celulose representa quase metade das paredes celulares dos vegetais, tendo estas diferentes digestibilidades. A Hemicelulose e as pectinas têm diferentes origens, sendo estas facilmente digeríveis. Em relação à Lenhina, esta aumenta com a idade da planta, fazendo aumentar a rigidez e diminuindo a digestibilidade da forragem. Todos estes componentes têm interações entre si.
O teor em fibra pode ser medido de várias formas: Fibra Bruta (FB), NDF, ADF, ADL.
Imagem 2 – Composição da Fibra Bruta
Ainda em relação as fibras, no que diz respeito à ingestão e digestão, sabemos que estão ligados aos valores de NDF, ADF e ADL. Assim, sabemos que o valor da Hemicelulose, alimento rapidamente digerível da forragem, é obtido da diferença de NDF e ADF. Da mesma forma, o valor de Lenhina (ADL) é obtido subtraindo o ADF. Com isto, sabemos que o valor de NDF reflete a ingestibilidade dos alimentos, enquanto o valor de ADF ilustra a fibrosidade e digestibilidade. Um valor de ADF alto significa menor digestibilidade ( devido à alta proporção de Lenhina).
Gráfico 2 – Relação entre NDF (% MS) e UFL (Energia)
No Gráfico 2, pode comprovar-se que, para valores mais baixos de NDF, o valor de UFL será mais elevado, tendo por isso impacto na produção de leite. Conforme os valores de NDF vão aumento, o teor de UFL (/ Kg MS) vai diminuindo.
O Mesmo acontece com o ADF. Valores mais baixos de ADF, representam um teor em energia superior na forragem, sendo por isso mais impactantes positivamente na produção de leite (Gráfico 3).
Gráfico 2 – Relação entre ADF (% MS) e UFL (Energia)
Gráfico 3 – Relação entre ADF (% MS) e UFL (Energia)
A digestibilidade da parede vegetal vai diminuindo conforme o estado de maturação da planta. Entre 33 e 38% MS, a digestibilidade da NDF diminui 4 pontos, o que equivale a perdas de produção de leite na ordem dos 0,4 Litros por vaca e por dia, para planos alimentares compostos por 45% de Silagem de Milho. É importante alcançar um mínimo de 17-18% de Fibra Bruta (em relação à Matéria Seca) nas dietas, onde 75% deverão ser aportados pelas forragens.
Valores de Amido bastante variáveis
Relativamente a energia das forragens, podemos falar essencialmente em 2 parâmetros: o Amido e as Unidades Forrageiras. O Amido representa essencialmente as reservas de glúcidos presentes nos vegetais. Este pode ser dividido em 3 grupos devido à sua diferente degradabilidade digestiva: Amido Solúvel, Amido Lento e Amido By-pass.
Quando falamos de forragens para a produção de leite, neste caso Silagem de Milho, a energia pode ser expressa em valores de UFL (Unidades Forrageiras para o Leite). Esta representa o valor de energia presente no alimento de referência, a Cevada (1 UFL = energia num kg de Cevada, que equivale a 1700 kcal de energia para a lactação)
Gráfico 4 – Relação entre Amido (% MS) e UFL (Energia)
Analisando a correlação entre Amido e UFL (Gráfico 4), pode verificar-se que uma Silagem de Milho para bons resultados na produção de leite deverá ter valores de Amido entre 32 a 42, representando asssim, valores de Energia dentro de 0.85 e 0.95 UFL.
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